sábado, 20 de junho de 2015

Alguém poderia substituir Agatha Christie?


Fã da Rainha do Crime, a britânica teve “a sorte e a honra” de escrever um novo romance, conduzido por outro insubstituível: HerculePoirot. Maria Ramos Silva não correu risco de vida com “Os Crimes do Monograma”


“Sentado no seu café preferido, prepara-se para mais um jantar de quinta-feira. Tudo calmo até ser surpreendido por Jennie, que garante estar prestes a ser assassinada e, mais insólito ainda, que lhe suplica que não investigue o caso”
(trecho do livro)


É fácil adivinhar que esta mulher tem à sua frente o ilustre Hercule Poirot. Mais complicado é imaginar o resto da história e, acima de tudo, como escrevê-la sem defraudar a mãe de um dos personagens mais famosos da ficção policial. Coube a Sophie Hannah reativar as células cinzentas do "belga brilhante" em "Os Crimes do Monograma", o primeiro livro que dá seguimento à obra de Agatha Christie depois da sua morte, em 1976. Um desafio de peso, como nos relata a escritora através desta descontraída entrevista.


LEMBRA-SE DE QUANDO COMEÇOU A LER OS LIVROS DE AGATHA CHRISTIE?
Lembro-me perfeitamente. Quando era pequena o meu pai costumava arrastar-me para feiras de alfarrabistas. Era um colecionador obsessivo de livros sobre críquete. Tinha uns 12 anos e certo dia, para me manter quieta, comprou-me uma velha edição de um livro de Agatha Christie, "Um Corpo na Biblioteca". Adorei, e depois disso passei a acompanhar o meu pai a todas essas feiras, em busca de outras obras. Quando cheguei aos 14 anos já tinha comprado e lido a coleção completa.

COMO DECORREU O PROCESSO DE ELEIÇÃO DE UM AUTOR PARA SUCEDER A AGATHA CHRISTIE, NESTA DIFÍCIL MISSÃO DE CONTINUAR A DAR VIDA A HERCULE POIROT?
Tive uma grande sorte. Aconteceu que o meu agente tinha encontrado com o editor de Agatha Christie a propósito de outro assunto qualquer. De repente lembrou-se de lhe dizer: "Sabe que mais? Devia pedir à minha autora, a Sophie Hannah, que escrevesse um novo romance com Poirot, ela é uma grande fã de AgathaChristie." No dia seguinte o editor comunicou com os detentores dos direitos da escritora e mencionou esta hipótese.

ESPERAVA TER SUCESSO?
Pensava que a resposta seria "não", já que apenas no passado se levantara esta questão de alguém escrever um novo romance de Agatha Christie. Sucede que a família de Christie estava a pensar precisamente nessa eventualidade, de dar seguimento à sua obra. Foi uma feliz coincidência. Tudo aconteceu na hora certa, para grande sorte minha.

PELA RESPONSABILIDADE QUE REPRESENTAVA A MISSÃO DE SUBSTITUIR AGATHA CHRISTIE, CHEGOU A PENSAR RECUSAR ESTE DESAFIO?
É um erro alguém pensar que consegue substituir AgathaChristie. Não tenciono ser a nova Agatha, ou escrever exatamente como ela. A minha ideia foi elaborar um bom enigma, que Poirot pudesse solucionar, criar um puzzle (quebra-cabeças) que estivesse ao nível das suas célulazinhas cinzentas. Atirei-me de cabeça ao desafio de escrever um novo romance. Para mim foi uma honra, e adoro missões difíceis.

QUAL FOI O SEU MODELO PARA "OS CRIMES DO MONOGRAMA"?
As histórias de Agatha Christie são imprevisíveis, com grande mudanças na narrativa, num enredo bem estruturado. Esforcei-me por seguir estes princípios.

TORNOU-SE UMA AUTORA DE BESTSELLERS GRAÇAS À FICÇÃO DENTRO DO GÊNERO POLICIAL. AGATHA CHRISTIE DEVE TER TIDO PESO NA ESCOLHA DESTE CAMINHO. HOUVE OUTROS MOTIVOS?
Sim, é verdade que adoro policiais desde que descobri os livros de Agatha Christie. Nas histórias de crime há uma dimensão muito satisfatória no enredo: há sempre um mistério, o que leva o leitor a querer ir sempre avançando, além de ter a garantia (quando a história é bem escrita) de que esse mistério será resolvido no final. Além disso, no nosso cotidiano acho que temos um fascínio natural por encontrar respostas para as perguntas a que julgamos não conseguir responder. É por isso que o policial é o maior gênero literário.

UM GÊNERO QUE GOZA DE IMENSO SUCESSO. PORQUE NOS SENTIMOS TÃO PRÓXIMOS DE HISTÓRIAS COMO ESTAS?
É um gênero que encerra em si sempre uma motivação para deslindar um mistério, e portanto é o que está mais próximo da nossa forma de pensar na vida real. O desespero de descobrir quem matou “X” é o mesmo de "será que vou conseguir aquela proposta de trabalho, casa ou casamento?".

QUAL FOI A REAÇÃO DA FAMÍLIA DE CHRISTIE AO SEU ROMANCE?
Ficaram encantados com "Os Crimes do Monograma". É incrível ter conseguido escrever um romance que consideraram suficientemente bom para estar associado ao nome de Agatha Christie.

DEPOIS DE "OS CRIMES DO MONOGRAMA", JÁ HÁ PLANOS PARA NOVOS LIVROS?
Esperem para ver! Ainda não há planos, mas ninguém sabe o que pode acontecer no futuro.

ESPECULA-SE TAMBÉM SOBRE A HIPÓTESE DE ADAPTAÇÃO DO LIVRO ÀS TELAS, PARA MAIS UM REGRESSO DE DAVID SUCHET. É UMA POSSIBILIDADE REAL?
Não sei se chegará às telas, mas penso que não seria David Suchet a desempenhar o papel de Poirot. Ele deu por terminada essa participação e seguiu em frente. Portanto, se por acaso este livro chegasse à televisão, teríamos de escolher outra pessoa para fazer o papel deste belga brilhante.


Mais uma vez espero que tenham gostado!
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Abraço Forte e até a próxima...

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Algumas Curiosidades sobre Marple & Poirot... A melhor dupla de detetives a trabalhar por conta própria!

Mediante às características dos mais famosos personagens da nossa Rainha do Crime, abordamos abaixo algumas curiosidades sobre eles. Boa Leitura!
 

TODOS TÊM NOME, ATÉ MISS MARPLE
É bonito dizer “Miss Marple”. É curto, ninguém esquece e está longe de ser um trava-línguas, mesmo para quem não conheça nada de inglês. Ao mesmo tempo, é perfeito para a personagem: na essência, esta detetive amadora é uma avó sem netos e com espírito de criança, uma mulher que se habituou a ver o que os outros não vêem e a fazer histórias com isso. O fato de conseguir descobrir assassinos no meio de cenários de crimes confusos não é escolha sua: Marple não consegue evitar.
Acrescente-se uma nota: se a tratássemos sempre pelo primeiro nome, Jane, certamente o resultado não seria o mesmo, não é?

ARMA SECRETA: INTELIGÊNCIA
Não há, no método de Jane Marple, nenhuma habilidade especial. Aliás, a verdade é que não existe método nenhum. O que Miss Marple tem – o que Agatha Christie lhe deu – é uma inteligência fora do vulgar. Dêem-lhe uma ponta de um véu que ela conseguirá revelar a peça inteira. Até porque uma das expressões mais óbvias desta clarividência acima da média está nos pequenos grandes nadas. Miss Marple, com toda a simpatia do mundo, faz a conversa e mantém o diálogo a correr. Os pormenores cotidianos que surgem nesses momentos bastam-lhe para descobrir o que parecia secreto.

PRIMEIRO OS CONTOS, DEPOIS O RESTO
Para Miss Marple, começou tudo nas revistas “The Royal Magazine” e “The Story-Teller Magazine”, a partir de 1927. Uma série de histórias que acabaram mal para uns quantos, que deviam ter prestado atenção aos detalhes; e que trouxeram a maior das sortes à investigadora sem carteira profissional: protagonizar um primeiro romance, “The Murder at the Vicarage”, de 1930, sobre um aldeão odiado por todos que aparece morto na igreja.

ACOMPANHADA SÓ QUANDO É PRECISO
Agatha Christie foi casada duas vezes e teve uma filha, Rosalind Hicks. Mas ao criar Miss Marple, fez as coisas de maneira diferente. Não lhe deu nenhum marido nem filhos. Aliás, família quase nem vê-la, a não ser o sobrinho, Raymond West, um escritor que, às primeiras aparições, ainda está a fazer o seu caminho e que, nas últimas, já aparece com algum reconhecimento. Há um tio, alguns primos, mas nada de muito próximo para a distrair do que mais lhe ocupava o tempo. Nunca trabalhou, mas não tem problemas financeiros e educação não lhe falta, das artes à anatomia.

SOLUÇÃO DE CRIMES NA TELEVISÃO
Houve dois grandes momentos de Miss Marple na televisão. O primeiro aconteceu entre 1984 e 1992. Joan Hickson protagonizou a produção da BBC e chegou a ser voz de alguns audiolivros com a mesma personagem. Em 2004, Marple regressou à televisão com o título “Agatha Christie’s Marple”. O papel principal foi atribuído a Geraldine McEwan, mas a atriz morreu em 2011, com 82 anos. A substituição surgiu com Julia McKenzie, a partir da quarta temporada. A série, da ITV, foi até à temporada seis (de 2013), para depois os direitos das adaptações de Agatha Christie serem comprados pela BBC.

AMIGAS PARA SEMPRE
Conta a história que AgathaChristie se inspirou, em parte, na vida da própria avó – e respetivas companhias – para criar a personalidade de Miss Marple. A autora afirmou em diferentes ocasiões que ambas tinham em comum o fato de esperarem quase sempre o pior das pessoas. Daí até chegarem a juízos de valor era preciso pouco. E tal como Jane Marple, também a avó Christie tinha a mania de acertar nas conclusões. Talvez daqui tenha surgido a preferência da “Rainha do Crime” por Miss Marple, sobretudo face a Poirot – ainda que tenha escrito mais histórias para o belga.

HERCULE DO PAI, POIROT MAIS OU MENOS
Agatha Christie tinha muita imaginação. E outra coisa que tinha era a mania das leituras. Era inevitável que, volta e meia, as duas se juntassem para criar uma outra coisa, diferente das originais. E por que esta matemática? Porque a escritora batizou este detetive belga partindo de dois outros personagens de ficção: Hercule Popeau, de Marie Belloc Lowndes, e Monsieur Poiret, de Frank Howel Evans. Juntando os dois, dá aquilo que já se sabe: Hercule Poirot, provavelmente o melhor nome de uma personagem para treinar o sotaque francês. Estão lá as curvas todas das vogais.

TODAS AS HISTÓRIAS MENOS UMA
Tal como não houve nenhum outro detetive privado como Poirot (e provavelmente vai tudo continuar assim), também não houve outro Hercule como David Suchet. Aliás, um sem o outro é coisa que não existe. O próprio disse, após o último episódio da série televisiva, que aquela era “a morte de um querido amigo”. Ligações sentimentais à parte, até os números ajudam a explicar isto: Suchet foi Poirot em todas as histórias escritas por Agatha Christie. Todas menos um pequeno conto. É esperar para ver o que acontece no futuro.

RESUMINDO POIROT
Tal como fez com Marple, AgathaChristie mostrou Poirot ao mundo com alguma idade logo a partir da primeira história. Se é para criar personagens que investigam crimes e encontram culpados, então que sejam criadas com alguma experiência. Família não é coisa que aqui importe muito. Hercule nasceu numa aldeia belga e teve como pais Jules-Louis e Godelieve Poirot, gente endinheirada e católica. Antes de ser detetive privado, foi policial. Já na reforma, dedicou-se ao trabalho no campo: nada de muito esforçado, sempre à procura do próximo meliante.

DO “ERA UMA VEZ” AO PONTO FINAL
Além de ser profissional encartado nas artes de descobrir malvados homicidas, Poirot é também mais antigo que Miss Marple nessas mesmas lidas. Tudo começou em 1920, com “The Mysterious Affair at Styles”. Poirot é um recém-chegado à Grã-Bretanha, depois de fugir da guerra no continente. Instala-se em casa de Emily Inglethorp, que o ajuda em tudo o que precisa. Pouco depois, Emily é encontrada morta. Vai daí, Hercule faz o que tem a fazer. Porque neste campeonato tudo tem de fazer sentido, a mesma casa acolhe a última das histórias com Poirot, “Cai o Pano”.

2+2=4, É FAZER AS CONTAS
Para Poirot, tudo tinha de estar bem engomado, o bigode no estilo, o chapéu onde tinha de ser. Na hora da investigação, a mesma coisa. Fugiu da guerra e instalou-se no campo inglês, mas nenhuma dessas transformações abalou as suas prioridades: ordem e método. E ambas as palavras deveriam sempre trabalhar em conjunto com as pistas, fundamentais para chegar a um final bem sucedido (muitas vezes, até escondendo algumas do seu ajudante Hastings).

UM MAL NECESSÁRIO
Poirot apareceu cedo na vida de Agatha Christie e foi essa a razão para que o caro Hercule tivesse sido o protagonista de quase o dobro das histórias de Jane Marple. Também por isso, foi público o cansaço da autora face ao detetive de bigodes. A própria chegou a descrevê-lo como “egocêntrico”. Ainda assim, continuou a dar-lhe histórias até 1975. Se o público gostava de ler Poirot, então que se fizesse segundo a vontade dos leitores – um sucesso que levou mesmo o “New York Times” a escrever o obituário do investigador. Agatha Christie morreria um ano depois, aos 85 anos.



Espero que tenho gostado!
Peço gentilmente que comentem, publiquem e compartilhem.

Abraço Forte e até a próxima!

Hora de Voltar

Caros leitores "Agathachristianos",

Depois de um longo período ausente, é com grande prazer e alegria que informo a retomada das publicações no rainhadocrime.blogspot.com.br.
Durante este período acompanhei diversas matérias publicadas referente à nossa Rainha do Crime, Agatha Christie, que certamente contribuirão em muito para nossa retomada.

Conto com a colaboração e participação de todos!
Sejam bem vindos novamente!

Abraço Forte
Thiago Medeiros