sábado, 2 de novembro de 2013

O Medo de Agatha Christie

Em sua autobiografia (que é um dos seus melhores livros, se não o melhor de todos) Agatha Christie discute de vez em quando alguns temas ligados à literatura policial, entre eles o do medo. Embora seja mais famosa por seus romances detetivescos, como os de Hercule Poirot e Miss Marple, ela escreveu também romances e obras de suspense,  dos quais o mais famoso, sem dúvida alguma, é “O Caso dos Dez Negrinhos”.

O que há de mais interessante na saudosa Rainha do Crime é que era uma mulher inteligente, intuitiva, perspicaz, mas sem muita sofisticação conceitual. Vendo-a discutir literatura, história da Inglaterra ou a vida de uma dona-de-casa, estamos diante de alguém que pensa com sutileza e originalidade, mas em momento algum transforma isto em linguajar "pseudofilosofante".

Ela relata que, na infância, uma das coisas que mais lhe causavam medo era a brincadeira da “irmã mais velha”, uma irmã fictícia, que ela imaginava ser louca e moradora de uma gruta, além de ser sósia de sua irmã mais velha, Madge.

A brincadeira consistia em Madge mudar de voz no meio de uma conversa qualquer, e dizer:

_Agatha, você sabe quem eu sou, não é?  Sou Madge. Você não está pensando que eu sou outra pessoa, não é?

A mudança na voz... a mudança no olhar... alguns pequenos gestos... e isto bastava para que Agatha, com cinco anos, tivesse certeza de que não era Madge que estava ali, mas “A Irmã Mais Velha”... Consequentemente a futura e destemida Rainha do Crime, saía correndo, aos gritos.
Depois, comentava ela:

_Por que gostava tanto da sensação do medo? ... Será que habita em nós algo que se rebela contra uma vida com excessiva segurança? ... Será que é necessária à vida humana a sensação de perigo? ... Necessitamos instintivamente de algo a combater, a superar, como se fosse uma prova que quiséssemos dar a nós próprios? ... Se tirássemos o lobo da história de Chapeuzinho Vermelho, alguma criança gostaria dessa história? ...

O medo pode vir dessa capacidade de estranhamento, de distanciamento, de olhar algo que nos é familiar e ver naquilo uma presença ameaçadora. Este processo mental é o reverso de outro que busca nos apaziguar, transformar o estranho ou ameaçador no familiar, no que está sob o controle da consciência.


Agatha relata também a história divertida de um de seus netos, Matthew, que certa vez ela viu, aos dois anos de idade, descendo uma escada sozinho. Com medo de rolar pelos degraus, ele se agarrava à balaustrada, descia um degrau de cada vez, murmurando baixinho:

_Este é Matthew... ele está descendo a escada...

É uma ilustração nota-dez do nosso processo de racionalização, de “olhar de fora” algo arriscado para assumir um mínimo de controle sobre o que ocorre. E ela diz que todas as vezes que precisava participar de eventos públicos, apesar de sua timidez, murmurava para si mesma:

_Esta é Agatha... ela é uma escritora famosa... vai dar uma palestra...

E isto a tranquilizava...


"Um dos nossos maiores medos é o medo daquilo que nossa mente não consegue dominar"

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O Inimigo Imaginário de Agatha Christie

Toda criança tem um amigo imaginário; vai ver que todas têm também um inimigo imaginário. Agatha Christie conta em suas memórias que um dos seus pesadelos mais constantes durante a infância envolvia um personagem que ela chamava "O Homem do Fuzil".

Era uma espécie de soldado francês, com chapéu de tricórnio e um mosquetão antiquado ao ombro. Aparecia nos momentos mais inesperados: quando a família estava reunida para o chá, ou quando as crianças brincavam no jardim. De repente, a pequena Agatha começava a sentir uma inquietação crescente. Olhava em volta, e acabava vendo-o sentado à mesa, ou caminhando na direção delas, na praia. Ele se aproximava, com os olhos fixos nela, e eram olhos de um azul muito pálido. Ela acordava gritando; “O Homem do Fuzil! O Homem do Fuzil!” Ela não temia que o homem disparasse o fuzil, que era apenas uma parte de sua indumentária, como o chapéu ou as botas. Era a simples presença dele, e seu olhar cruel, que a amedrontava.

Com o passar dos anos, o pesadelo foi se sofisticando, e o Homem do Fuzil passou a fazer aparições mais sutis. Diz ela: “Algumas vezes estávamos sentados ao redor de uma mesa de chá, eu olhava para um amigo ou para um membro da minha família e, de repente, tinha consciência de que não era Dorothy, ou Phyllis, ou Monty, ou minha mãe, ou qualquer outra pessoa. Nesse rosto familiar, os pálidos olhos azuis encontravam-se com os meus. Era "o Homem do Fuzil.”


 É um pesadelo notável para uma garota de cinco anos, mas é mais notável ainda quando refletimos em quem essa garota se tornou. Agatha Christie está entre os autores que melhor exploraram um tipo de história que os analistas do romance policial chamam de “cozy mystery” (“mistério aconchegante”), ou de “country house murders”. São histórias geralmente ambientadas numa casa de campo (ou mais raramente casa de praia) onde um grupo de pessoas amigas se reúne para passar um feriado ou final de semana, e ali, no meio daquele ambiente tranqüilo, acaba acontecendo um assassinato.


Agatha Christie


O “cozy mystery” é tipicamente a descrição de como a harmonia num círculo de pessoas amigas, ou numa família, é rompida subitamente por um crime brutal. Segue-se uma investigação, no curso da qual o detetive, geralmente Hercule Poirot, começa a desvendar segredos, conflitos, ódios reprimidos, ressentimentos acumulados, e começa a perceber que todo mundo ali poderia ter motivo para matar a vítima. Ele vai reunindo as pistas, confrontando os depoimentos, e o livro culminam com uma sessão em que todos os suspeitos são reunidos numa sala, com a presença da polícia. Ali, Poirot faz uma reconstituição de como o crime foi cometido, elimina de um em um os suspeitos, até que o funil vai-se estreitando, e ele aponta o verdadeiro criminoso. Porque mesmo num ambiente de aparente harmonia um parente nosso, ou um amigo da família, de quem menos se suspeitava, pode ser "O Homem do Fuzil".

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Aloha! Agatha Christie também foi Surfista

Você aí, que acha que Agatha Christie já nasceu com aquele seu  jeito de vovó, prepare-se para mudar seus conceitos em relação à Rainha do Crime. Em fevereiro de 1922, ela e o marido, Archie (Archibald Christie), partiram para uma volta ao mundo que duraria dez meses. Entre outras aventuras, o casal surfou na África e em Honolulu. Ou melhor, em Honolulu eles tentaram, como a própria escritora contou em sua Autobiografia (publicada em 1979 no Brasil pela Nova Fronteira).


“Nossa viagem foi lenta, parando em Fidji e em outras ilhas antes de chegarmos. Achamos Honolulu muito mais sofisticado do que pensáramos, com muitos hotéis, estradas e automóveis. Chegamos cedo, pela manhã, fomos para nosso quarto do hotel e, imediatamente, vendo pela janela gente a fazer surf, correndo para a praia, alugamos pranchas e mergulhamos no mar. Éramos, claro, totalmente ingênuos. Estava um dia ruim para fazer surf – um desses dias em que só os peritos vão para o mar; mas nós, que havíamos feito surf na África do Sul, acreditávamos que surf para nós, já não era mistério algum. Acontece que em Honolulu era diferente. A prancha, por exemplo, era um grande pedaço de madeira, quase que pesado demais para que o pudéssemos erguer. Deitamo-nos em cima dela e nadamos vagarosamente até os recifes, a uma milha de distância – pelo menos foi o que me pareceu. Aí, colocamo-nos na devida posição e esperamos por uma dessas ondas que nos atiram pelo mar a fora até a praia. Não é tão fácil quanto parece. Primeiro, temos que reconhecer a espécie de onda própria para isso e depois, ainda mais importante, temos que reconhecer a onda que não serve, porque se somos apanhados por uma daquelas que nos arrasta para o fundo só Deus nos poderá ajudar! Eu não era uma nadadora tão experiente quanto Archie, de modo que demorei mais tempo a atingir os recifes. Por essa altura já perdera Archie de vista; presumi que estivesse flutuando em direção à praia, negligentemente, como os outros estavam fazendo. De modo que me coloquei apropriadamente em cima da minha prancha e esperei pela onda. Ela veio. Era da espécie imprópria. Num abrir e fechar de olhos eu e minha prancha fomos atiradas para milhas uma da outra. Primeiro, a onda, depois de me arrastar violentamente para o fundo do mar, sacolejou-me muito. Quando atingi a superfície, sem respiração e tendo engolido enormes quantidades de água salgada, avistei minha prancha, flutuando a meia milha de mim, em direção à praia. Nadei laboriosamente atrás dela. Foi recuperada para mim por um jovem norte-americano que me cumprimentou com as seguintes palavras: `Escute, irmã, se eu fosse você, hoje não faria surf. Você está arriscando demais. Tome a prancha e nade direitinho para a praia.´ Segui imediatamente seu conselho.”

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Mais uma faceta da Rainha do Crime - Surfista

sábado, 28 de setembro de 2013

Agatha Christie já foi investigada pelo MI5 - Serviço de Inteligência Britânico -

Durante a Segunda Guerra Mundial, Agatha Christie foi investigada após uma onda de desconfiança de que ela tivesse um espião dentro do serviço secreto britânico MI5.

O motivo da suspeita, segundo o jornal "The Guardian", só foi revelado agora, pois as informações sobre o caso estão em um novo livro sobre o MI5, intitulado de "The Codebreakers of Station X", de Michael Smith, publicado em 4 de fevereiro de 2013.

As investigações foram devidas ao romance "N ou M?", lançado em 1941, pois o nome de um dos personagens é "Major Bletchley", e seria em referência ao Bletchley Park, antiga instalação militar que tinha como objetivo decifrar códigos alemães.

Na história, Bletchley aparece como um militar aposentado indiano que diz ter informações sobre a estratégia inglesa durante a guerra. Por coincidência, a escritora inglesa era amiga de Dilly Knox, um dos agentes de Bletchley Park.

Segundo informações encontradas nos arquivos de Bletchley Park, o serviço secreto queria saber sobre o que Agatha tinha acesso, mas temia que a investigação fosse publicada. Knox teria afirmado que a escritora não sabia de nada, mas que perguntaria a ela. Durante o encontro, ele perguntou à autora de onde surgiu a ideia de batizar o personagem de Bletchey e sua resposta surpreendeu:

"Bletchley? Meu querido, eu fiquei presa lá no trem que ia de Oxford a Londres e, como vingança, dei o nome da cidade ao meu personagem menos querido", disse a autora, para alívio do serviço secreto.


... Essa é a nossa Rainha do Crime, sempre surpreendendo a todos!

Fonte:

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

O Segredo de Agatha Christie

(Trecho de Segredos do romance policial, de P. D. James)

Já se gastaram resmas de papel na tentativa de desvendar o segredo do sucesso de Agatha Christie. Escritores que investigam o fenômeno começam normalmente com a aritmética de suas conquistas: só a Bíblia e Shakespeare venderam mais do que ela, traduzida para mais de cem idiomas, autora da peça que mais tempo ficou em cartaz em Londres e, além disso, agraciada com prêmios que o sucesso reserva geralmente apenas aos mais elevados talentos literários - Dame do Império Britânico e um título honorário de doutora em literatura pela Universidade de Oxford. A questão permanece: como essa senhora bem-criada, essencialmente eduardiana, conseguiu isso?

Com toda certeza o apelo universal de Christie não repousa em sangue ou violência, não nos corpos crivados de balas nas ruas perigosas de Raymond Chandler, na selva de pedra do detetive sardônico, rápido no gatilho e gozador, nem na cuidadosa análise psicológica da depravação humana. Embora seus dois detetives, Poirot e MissMarple, de vez em quando investiguem assassinatos no exterior, seu mundo natural, conforme percebido pelos leitores, é uma aconchegante e romantizada cidadezinha inglesa, enraizada em nostalgia, com sua hierarquia bem ordenada: o cavalheiro rico (muitas vezes com uma jovem esposa de antecedentes misteriosos), o coronel aposentado irascível, o médico de aldeia e a enfermeira regional, o farmacêutico (útil para a compra de veneno), as solteironas fofoqueiras atrás das cortinas de renda, o pároco local, todos se movimentando previsivelmente em sua hierarquia social como num tabuleiro de xadrez. [...]

Christie não usa grande sutileza psicológica em suas caracterizações; seus vilões e suspeitos são desenhados em traços amplos e claros e, talvez por causa disso, têm uma universalidade que leitores do mundo inteiro podem reconhecer instantaneamente e com a qual se sentem à vontade. Acima de tudo, ela é uma prestidigitadora literária que coloca as cartas de baralho com seus personagens viradas com a face para baixo e as embaralha com experiente destreza. Jogo após jogo temos certeza de que dessa vez vamos virar a carta com o verdadeiro assassino, e toda vez sua astúcia nos derrota. E, quando se trata de um mistério de AgathaChristie, nenhum suspeito pode ser eliminado com segurança, nem mesmo o narrador da história.

Com outros escritores de mistério da Era Dourada, podemos ter uma razoável confiança de que o assassino não será um dos enamorados jovens e atraentes, um policial, uma criada ou uma criança, mas com Agatha Christie não há favoritos nem entre assassinos, nem entre vítimas. A maioria dos autores de mistério hesita, como eu, em matar os muito jovens, mas ela é dura, tão disposta a matar uma criança, claro que uma criança precoce e inimputável, quanto a dar fim num chantagista. Com a Sra. Christie, assim como na vida, a única certeza é a morte.

Talvez sua maior força esteja em nunca ter ultrapassado os limites de seu talento. Ela sabia precisamente o que era capaz de fazer e fazia bem. Durante mais de cinquenta anos, essa mulher tímida e convencional produziu mistérios de assassinato de extraordinária destreza imaginativa. Com uma produção imensa, a qualidade é inevitavelmente irregular [...], mas em sua melhor forma a engenhosidade é assombrosa. Sua habilidade fundamental como contadora de histórias é o talento de enganar, e é possível identificar alguns dos truques, com frequência verbais, com os quais ela nos induz, com delicada esperteza, a enganarmos a nós mesmos.

Com o tempo, quase alcançamos a esperteza da autora. Tomamos cuidado ao entrar naquela que é a mais letal das salas, a biblioteca da casa de campo, suspeitamos do desocupado insinuante que volta de terras estrangeiras e atentamos cuidadosamente aos espelhos, aos gêmeos e aos nomes andróginos. Ela gosta sobretudo de uma versão do eterno triângulo em que um casal, aparentemente feliz no noivado ou no casamento, é ameaçado por uma terceira pessoa, às vezes predatória e rica. Quando a vítima é assassinada, há pouco mistério quanto ao suspeito principal. Só no fim do livro Christie gira o triângulo e reconhecemos que ele estava de ponta-cabeça o tempo todo. E suas pistas são brilhantemente criadas para confundir. O mordomo olha de perto um calendário. Ela planta assim em nossa mente a suspeita de que uma pista crucial está relacionada com datas e horários, mas a pista, na verdade, é que o mordomo é míope.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Charles Osborne e Agatha Christie: Uma póstuma parceria que deu certo!


O Visitante Inesperado

Não se deve confiar no óbvio. Pelo menos quando o assunto é Agatha Christie. Em O VISITANTE INESPERADO — peça teatral transformada em romance por Charles Osborne — a velha Rainha do Crime mostra porque é considerada mestre no assunto e já vendeu bilhões de exemplares em todo o mundo. O mistério é o personagem principal numa trama repleta de reviravoltas, diálogos tensos, diversos suspeitos e com final surpreendente.


O VISITANTE INESPERADO pode ser definido como um mistério disfarçado de não-mistério, pois começa aparentemente com a resolução de um caso de assassinato. O engenheiro Michael Starkwedder atola seu carro numa vala num frio fim de tarde de novembro. Ao procurar ajuda numa casa das imediações, dá de cara com um cena bizarra. Uma mulher, segurando uma arma ao lado do cadáver do marido, se confessa culpada. Mas nada é tão simples quanto parece. O morto — o deficiente físico Robert Warwick — era um sádico de caráter irascível, odiado por muitos.

A cada virada de página, ao se descortinarem as idiossincrasias de Warwick, fica mais difícil acreditar que ele tenha sido morto pela esposa. Satarkwedder encarna o detetive amador e começa a investigar o caso. A ele logo se junta um inspetor de polícia com inclinações poéticas — sempre citando autores famosos, entre eles Keats. Os dois suspeitam que a viúva está tentando encobrir alguém. Talvez um parente do menino atropelado e morto por Warwick dois anos antes... quem sabe o cunhado psicologicamente problemático... ou, até mesmo, o próprio amante da viúva... A dúvida fica no ar até o último instante, e o seu final é simplesmente surpreendente!!!

Ao adaptar a peça O VISITANTE INESPERADO, Charles Osborne resgata uma história inédita para uma legião de fãs de Agatha Christie.

Agatha Christie nasceu em 1890 e tornou-se, para falar com toda simplicidade, na maior romancista da história em vendas. Escreveu 80 romances e coletâneas de mistério, e viu sua obra traduzida em mais línguas do que Shakespeare. Seu duradouro sucesso, promovido também por muitas adptações para o cinema e a TV, é um tributo ao apelo atemporal de seus personagens e à inigualável engenhosidade de suas tramas.

Charles Osborne nasceu em Brisbane no ano de 1927. É reconhecido internacionalmente como uma autoridade em ópera, e escreveu inúmeros livros sobre temas musicais e literários, entre eles As óperas completas de Verdi (1969), Wagner e seu mundo (1977), W.H. Auden: A vida de um poeta (1980) e A vida e os crimes de Agatha Christie (1982). Sua primeira adaptação de uma peça de Agatha Christie como romance, Black Coffe (Café preto), foi publicada em 1998.


Comentários sobre "O Visitante Inesperado"

"Uma leitura leve e vigorosa, que irá dar prazer a todos aqueles que há muito desejavam ter pelo menos mais um Agatha Christie para devorar." — Antonia Fraser, Sunday Telegraph

"Um valioso acréscimo ao cânone Christie." — The Spectator

"Lê-se como um autêntico Christie, da mais pura safra. Tenho certeza de que Agatha ficaria orgulhosa de havê-lo escrito." — Mathew Prochard, neto de Agatha Christie

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

As Obras mais famosas da Rainha do Crime


Os livros de Agatha Christie foram traduzidos para cerca de 50 idiomas diferentes somando mais de quatro bilhões de cópias em todo o mundo.

Aqui, os livros mais famosos da Rainha do Crime:


O Misterioso caso de Styles
(The Mysterious Affair at Styles)

Principal motivo da fama: primeiro livro publicado por Agatha Christie e primeira aparição do detetive Hercule Poirot.

Hastings e Poirot
O romance de estreia de Agatha Christie, publicado em 1920, também é o primeiro a ter como protagonista aquele que se tornaria um dos mais famosos detetives da literatura: Hercule Poirot. Poirot é ajudado por seu amigo, o capitão Hastings, que é quem narra a história na primeira pessoa. O livro traz ainda o inspetor Japp, da Scotland Yard. Ambientado em uma enorme e isolada casa de campo, o livro traz mapas da residência, da cena do assassinato e parte de um fragmento de testamento. Há também muitas pistas falsas e uma surpreendente mudança na trama.

Trama: no meio da noite, a Sra. Inglethorp, a rica proprietária da mansão Styles, é encontrada morta na sua cama, aparentemente vítima de um ataque cardíaco. As portas trancadas por dentro indicam tratar-se de uma morte natural. Mas o médico da família levanta uma suspeita: envenenamento. A partir de então, todos os hóspedes da velha mansão, incluindo seu segundo marido e seus enteados passam a ser suspeitos. Para solucionar o mistério, entram em ação Hercule Poirot e seu fiel amigo, capitão Arthur Hastings.



Assassinato de Roger Ackroyd
(The murder of Roger Ackroyd)

Principal motivo da fama: primeiro livro de Agatha publicado pela editora Collins.

Lançado em 1926, é protagonizado pelo detetive belga HerculePoirot. É considerado uma das obras-primas de Agatha Christie, ainda que a solução do mistério cause grande polêmica. Além da escritora ter usado um recurso inédito, ela ainda despreza as convenções dos romances policiais.

Trama: O romance é ambientado na sossegada vila britânica de Kings About, onde o principal passatempo de seus habitantes é falar da vida alheia. É lá, por exemplo, que muitos discutem a vida de Roger Ackroyd, considerado um “fidalgo rural”. O grupo das “más línguas” é liderado pela senhora Caroline Sheepard que anda a especular sobre o relacionamento da viúva Ferrars com Mr. Ackroyd. Em meio a chantagens e cartas anônimas, Mr. Ackroyd é assassinado. Mas, por coincidência, Hercule Poirot está descansando na vila, plantando abóboras. Então, com a ajuda do Dr. Sheepard, irmã da fofoqueira Caroline, ele inicia uma investigação que, no final, levará ao mais improvável desfecho.



Assassinato na casa do Pastor
(The murder at the Vicarage)

Principal motivo da fama:  primeiro caso de Miss Marple, a simpática e sagaz velhinha que tudo sabe e tudo descobre

A estreia de Miss Marple, o aparecimento de personagens inusitados e a engenhosidade da trama fazem deste romance de 1930 um dos clássicos de Agatha Christie.

Trama: a história se passa em St. Mary Mead, um pacato vilarejo onde há quinze anos não ocorre um homicídio e onde as pessoas discutem a vida alheia tomando chá. Quando um sangrento crime acontece em plena casa do pastor, o alvoroço é grande. O arrogante inspetor Slack é escalado para investigar o caso. O mistério também intriga uma discreta moradora que gosta de jardinagem e de observar pássaros de binóculo, mas cujo principal hobby é o estudo do comportamento humano: Miss Marple.



O caso dos Dez negrinhos
(The little niggers ou And ten there were none)

Principal motivo da fama: É um dos maiores best-sellers de todos os tempos, com cerca de 100 milhões de cópias vendidas.

Publicado em 1939, o livro causou polêmica devido aos “negrinhos” do título. Tanto que, nos EUA, teve seu nome alterado para And then there were none ou Ten little Indians. Tornou-se o título mais vendido de Agatha Christie e foi adaptado por ela para o teatro.

Nos anos 1950, chegou a ser publicado no Brasil com o nome de O vingador invisível e, em 2008, com o título de E não sobrou nenhum.

Trama: em uma ilha deserta na costa de Devon, oito estranhos são atraídos para uma mansão por um misterioso homem e sua esposa, por cartas que são assinadas com U. N. Owen. No primeiro capítulo do livro, que é dividido em oito partes, é relatada a viagem dos convidados, mostrando os motivos que os levaram à ilha. Lá, eles se encontram com o casal de criados dos Owen, Mr. e Mrs. Rogers. Após o jantar, todos ali presentes são acusados de um crime, através de uma voz que vem do gramofone. Na parede do quarto de cada um, há o seguinte poema:

Dez negrinhos vão jantar enquanto não chove;
Um deles se engasgou e então ficaram nove.
Nove negrinhos sem dormir: mas nenhum está afoito!
Um deles cai no sono, e então ficaram oito.
Oito negrinhos vão a Devon de charrete;
Um não quis mais voltar, e então ficaram sete.
Sete negrinhos vão rachar lenha, mas eis
Que um deles se corta, e então ficaram seis.
Seis negrinhos em uma colméia trabalham com afinco;
A um deles pica uma abelha, e então ficaram cinco.
Cinco negrinhos no tribunal. Ver e julgar um fato;
Um ali foi julgado, e então ficaram quatro.
Quatro negrinhos no mar; a um tragou de vez
O arenque defumado, e então ficaram três.
Três negrinhos passeando no zoo. Vendo leões e bois.
O urso abraçou um, e então ficaram dois.
Dois negrinhos brincando ao sol, sem medo algum;
Um deles se queimou, e então ficou só um.
Um negrinho aqui está a sós, apenas um;
Ele então se enforcou, e não sobrou nenhum.



Um crime Adormecido

(Sleeping murder)

Principal motivo da fama: publicado em 1976, após a morte de Agatha Christie, é o último caso de Miss Marple.

Segundo jornal Sunday Express é “um quebra-cabeça sinuoso, surpreendente e que satisfaz plenamente o leitor”. O livro, escrito por Agatha Christie durante a Segunda Guerra Mundial, ficou lacrado no cofre de um banco e só saiu de lá quando a escritora, já octogenária, finalmente autorizou sua publicação.

Trama: Gwenda Reed, 21 anos, recém-casada, acaba de comprar uma casa centenária no litoral sul da Inglaterra. Trata-se da residência ideal para um futuro vibrante. Aos poucos, porém, o novo lar vai revelando sinais sinistros. Mas como é possível que Gwenda possa intuir que um dia houve uma porta onde hoje há uma parede sem passagem? Ou que possa adivinhar, com precisão de detalhes, qual a estampa do papel de parede original de um quarto? Sem saber exatamente como, ela adquire a certeza de que uma mulher foi ou será morta na casa. Miss Marple, perspicaz como sempre, guiará Gwenda pelos segredos aterradores que seu próprio lar esconde.


Cai o pano
(Curtain)

Principal motivo da fama: é o último caso do detetive Hercule Poirot e o último livro a ser publicado em vida por Agatha Christie

Assim como Um crime adormecido, Cai o pano foi escrito durante a Segunda Guerra Mundial e ficou lacrado no cofre de um banco até ter sua publicação ser autorizada pela escritora em 1975. Foi o último romance publicado em vida por Agatha Christie.

Trama: já idoso, o detetive Hercule Poirot volta ao local de seu primeiro caso (O Misterioso Caso de Styles) à procura de um assassino. Para ajudá-lo, não poderia chamar outro além de seu fiel amigo, Arthur Hastings, que também já está velho e viúvo. Juntos, eles embarcam em uma última caçada que começa quando Poirot reúne cinco crimes que, aparentemente, tiveram a participação do assassino que estava na história O misterioso caso de Styles.



Assassinato no Expresso Oriente
(Murder on the Orient Express)

Principal motivo da fama: foi adaptado ao cinema com direção de Sidney Lumet e, em 1975, Ingrid Bergman recebeu o Oscar de melhor atriz coadjuvante por seu papel no filme.

Publicado em 1934, Assassinato no Expresso Oriente é mais um caso do detetive Hercule Poirot.

Trama: voltando de um importante caso na Síria, Hercule Poirot embarca no Expresso do Oriente em Istambul. O trem está estranhamente cheio para aquela época do ano. De madrugada, algo estranho acontece. No dia seguinte, o detetive descobre que um dos passageiros foi esfaqueado doze vezes enquanto dormia. Porém tudo é muito misterioso: algumas chagas são profundas e outras superficiais, algumas parecem ter sido feitas por uma pessoa canhota e outros por um destro.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Arthur Hastings - O "Watson" de Hercule Poirot

Hastings
Arthur Hastings

O Capitão Hastings é o "Watson" do detetive Hercule Poirot. Amigo inseparável, embora suas conclusões sejam muitas vezes o oposto da realidade, elas ajudam o raciocínio de Poirot. Este vive ironizando a forma de pensar de Hastings. O mais interessante, porém, é que a maioria dos leitores termina por seguir a mesma linha de pensamento do Capitão, tornando a leitura mais cômica, ou, dependendo do ponto de vista, irritante.
Hastings apareceu em 26 contos mas apenas em 8 romances. Casou-se com uma jovem e doce mulher chamada Dulcie Duveen e juntos se mudaram para Argentina. Durante anos, contudo, Hastings retornava para Londres para visitar seu amigo Poirot  Hastings teve 4 filhos, um dos quais é Judith, uma pesquisadora científica que vive na Inglaterra.


Participações nos livros da Rainha do Crime:

O Misterioso Caso de Styles - 1920
Assassinato no Campo de Golfe - 1923
Os Quatro Grandes - 1927
A Casa do Penhasco, Brasil  - 1932
Treze à Mesa - 1933
Os Crimes ABC - 1936
Poirot Perde Uma Cliente - 1937
Cai o Pano - escrito nos anos 1940, publicado em 1975

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Agatha Christie - Autora e Obra

Agatha Christie
Agatha Christie é, e sempre será, a Rainha do Crime. Soberana dos romances policiais, vendeu bilhões de livros pelo mundo e foi traduzida para 45 línguas, sendo ultrapassada em vendas somente pela Bíblia e por Shakespeare. Nasceu Agatha Mary Clarissa Miller, em 15 de setembro de 1890, na cidade inglesa de Torquay, mais precisamente na mansão Ashfield. Cresceu ouvindo as histórias de Conan Doyle, Edgar Allan Poe e Leroux, contadas por sua irmã mais velha, Madge. Mas foi a mãe que lhe incentivou a começar a escrever contos, quando um forte resfriado fez a menina Agatha ficar alguns dias de cama. Anos mais tarde, continuaria escrevendo encorajada por Eden Phillpotts, teatrólogo amigo da família. Já famosa diria que, no início, todas as suas histórias eram melancólicas e que a maioria dos personagens morria no final.

Em 1914, casou-se com o Coronel Archibald Christie (a quem ela chamava de Archie), piloto do Corpo Real de Aviadores. Com ele, além de herdar o nome com a qual se tornaria a maior celebridade dos romances policiais, Agatha teve uma filha, Rosalind. Deram a volta ao mundo juntos e, ao lado dele, a jovem Agatha chegou até a surfar em Honolulu. O divórcio entre os dois aconteceria em 1928.

O romance de estreia daquela que viria a se tornar a Rainha do Crime, O misterioso caso de Styles, foi concebido no final da Primeira Guerra Mundial. Foi depois de trabalhar como enfermeira, quando fora transferida para o dispensário que, junto aos medicamentos, voltou a pensar na ideia que mudaria para sempre a sua vida, como mostra o texto publicado em sua Autobiografia (publicada no Brasil em 1979 pela editora Nova Fronteira):

“Foi quando trabalhava no dispensário que concebi a ideia de escrever uma história policial. Essa ideia permanecia em minha mente desde o tempo em que Madge [sua irmã] me desafiara a escrevê-la – e meu atual trabalho parecia oferecer a oportunidade favorável. Ao contrário da enfermagem, onde sempre havia o que fazer, o serviço do dispensário tinha períodos muito atarefados e outros mais frouxos. Às vezes eu ficava de serviço só a parte da tarde, praticamente sentada o tempo todo. Depois de verificar que os frascos de remédios estavam cheios e em ordem, tinha liberdade para fazer o que quisesse, desde que não abandonasse o dispensário. Comecei a considerar que espécie de história policial poderia escrever. Visto que estava rodeada de venenos, talvez fosse natural que selecionasse a morte por envenenamento. Congeminei um enredo que me parecia ter possibilidades. Essa ideia permaneceu na minha mente, gostei dela e, finalmente, aceitei-a. Depois tratei da dramatis personae. Como? Por quê? E tudo mais. Teria que ser um envenenamento íntimo, devido à maneira especial como seria acometido o crime; teria que passar-se em família, ouso dizer assim. Naturalmente, teria que aparecer um detetive. Nessa altura, achava-me mergulhada na tradição de Sherlock Holmes. Por isso pensei logo em detetives. Não poderia ser como Sherlock Holmes, é claro: teria que inventar algo diferente, bem meu, mas também ele teria que ter um amigo íntimo, uma espécie de ator contracenante – não seria tão difícil assim! Retornei a meus pensamentos a respeito dos outros caracteres. Quem seria assassinado? (...) O verdadeiro objetivo de uma boa história policial é que o assassino seja alguém óbvio e que, ao mesmo tempo, por certas razões, descubramos que não é óbvio, e que, afinal, possivelmente não fora essa pessoa que cometera o crime.”

E assim nasceu O misterioso caso de Styles, trazendo pela primeira vez o detetive belga Hercule Poirot, personagem que conseguiria ser quase tão popular quanto Sherlock Holmes. E não só esse livro, como outros, foram influenciados pelo trabalho de Agatha no dispensário e possuem mortes por envenenamento.

Em 1926, após ter lançado a média de um livro por ano, Agatha Christie escreveu aquela que ficou conhecida como sua obra-prima: O assassinato de Roger Ackroyd. O livro, primeiro publicado pela editora Collins, marcou o início de um relacionamento autor-editor que durou meio século e rendeu 70 títulos. O assassinato... foi também o primeiro dos livros de Agatha a ser dramatizado – sob o nome de Álibi – e a fazer sucesso na West End de Londres. Mas o seu mais famoso texto levado ao teatro, A ratoeira, estreou em 1952 e é a peça que mais tempo ficou em cartaz em toda a história.

Agatha casou-se pela segunda vez em 1930 com o arqueólogo Sir Max Mallowan, 14 anos mais jovem. E foi ao lado dele que a escritora viajou para o Oriente Médio, apaixonou-se pelo Egito e inspirou-se para criar histórias como Morte no Nilo e E no final a morte.

Em 1971, Agatha recebeu o título de Dama da Ordem do Império Britânico. Faleceu em 12 de janeiro de 1976, de causas naturais, aos 85 anos de idade em sua residência (Winterbrook), em Wallingford, Oxfordshire. Foi enterrada no Cemitério da Paróquia de St. Mary, em Cholsey, Oxon.

Além de um patrimônio avaliado em 20 milhões de dólares, deixou algumas obras prontas, publicadas postumamente, como Um crime adormecido, sua Autobiografia e a coleção de pequenas histórias Os casos finais de Miss Marple, Enquanto houver luz e Problem at Pollensa.

Ao todo, é autora 66 novelas policiais, 163 histórias curtas, duas autobiografias, vários poemas, e seis romances “não crime” com o pseudônimo de Mary Westmacott. Pioneira em criar desfechos impressionantes, verdadeiras surpresas para os leitores, seus textos seguem fascinando as novas gerações.

Sua única filha, Rosalind Hicks, morreu em 28 de outubro de 2004, também com 85 anos e, assim como a mãe, de causas naturais. A partir de então, os direitos sobre a obra de Agatha Christie passaram a pertencer ao seu neto, Mathew Princhard.

sábado, 21 de setembro de 2013

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